terça-feira, 4 de novembro de 2014

O lobo atrás de todas as portas.

Nada melhor do que um filme lhe fazer surpreso, daqueles sentimentos térreos que enchem o dia de qualquer um com alegria. O Lobo Atrás da Porta provocara exatamente esse tipo de surpresa, do tipo que vem com satisfação e – ao final da exibição – acaba trazendo afirmação através da frase: “Esse é um dos melhores filmes do ano”.

Lançado no começo de 2014, O Lobo Atrás da Porta é dirigido por Fernando Coimbra e trata-se de um Thriller nacional em torno do desaparecimento de uma menina. Proposta básica de qualquer roteiro de suspense, “O Lobo...” conta a história de um delegado (interpretado pelo excelente Juliano Cazarré) interrogando três adultos relacionados à garota sumida. Eles são: a mãe Sylvya (interpretada por Fabíola Nascimento), o pai Bernardo (interpretado por Milhem Cortaz) e a amante de Bernardo (interpretada por Leandra Leal, e se revelando uma atriz mais sólida do que nunca). O filme já começa com ritmo frenético e assim se mantém do início ao fim, com personagens tão profundos e que permitem nuances tão grandes, o espectador acaba por se perder no meio de tanta loucura, não de forma negativa, mas sim de forma empírica. Você vive o mistério que o roteiro lhe oferece e em troca disso se sente preso e incapaz de saber em quem acreditar, quem defender e quem condenar. O fato dos acontecimentos na história serem contados fora de ordem cronológica também permite uma série de surpresas que deixam ainda mais interessante conhecer os personagens e o real motivo do desaparecimento da menina.

A presença de um minimalismo – o filme não tem grandes sequências, planos extensos ou enquadramentos gananciosos – lhe rende uma sofisticação, aquela clássica do ditado “menos é mais”. Os cenários todos em tons frios refletem na atmosfera sombria dos protagonistas, e torna suas personalidades tão diluídas que não são poucos os momentos em que o espectador questiona: “Afinal, quem é o lobo nessa história?”. Os quadros sempre fechados aumentam a tensão e a sensação, já comentada, de claustrofobia. As duas cenas principais (uma em um consultório médico e outra em um terreno baldio) se dão com plano americano e plano médio, respectivamente, o que faz com quem a assiste se perceba como testemunha oculta próxima ao acontecimento.
Presença de enquadramentos bem fechados
Outro aspecto interessante também é de que o último plano (onde a personagem de Leandra Leal é mostrada) já fora visto no começo do filme, mas ao contrário da primeira vez onde o enquadramento se dava em suas costas, dessa vez vemos a personagem de frente. Uma variação atribuída de valores, no qual afirma que dessa vez a mesma cena se da frente, pois todos já conhecem o que há por trás desta mulher – sua real faceta já fora revelada.

Os créditos sobem instantes depois que o mistério se revela, provocando desconforto tão grande e tão sufocante que nenhuma palavra é proferida dentro da sala de exibição. Todos os olhos estão vidrados na tela e procuram um reconforto no que fora assistido. Não há reconforto algum. A naturalidade com que o roteiro trata a questão abordada é tanta que a conclusão é inevitável: você não está assistindo apenas uma obra de ficção, você está vendo uma realidade adaptada a um filme – uma história que se repete inúmeras vezes e ainda se repetirá cotidianamente. O lobo talvez não esteja atrás de sua porta, mas com certeza existem lobos rondando o seu redor.

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